terça-feira, 30 de agosto de 2011

Temos futuro no automobilismo?


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Texto escrito e enviado por Jorge Fragoso

Suzuka, 1991: Nigel Mansell comete um erro na curva 1 do circuito e abandona a prova. Naquele momento, Ayrton Senna sagrava-se tricampeão mundial de Fórmula 1. Era o oitavo título de um piloto brasileiro na categoria máxima do automobilismo mundial – ficávamos atrás apenas do Reino Unido, cujos dez títulos até aquele momento haviam sido conquistados por dois países, Escócia e Inglaterra.

No final de 2011, a última conquista de Senna completará 20 anos, fato que certamente será bastante celebrado com ares de saudosismo pela mídia esportiva do país. Natural, pois Ayrton Senna foi inquestionavelmente um dos grandes esportistas brasileiros de todos os tempos. E certamente os festejos trarão também uma pergunta: Por que nenhum piloto brasileiro foi campeão na Fórmula 1 de lá pra cá?

Tivemos pilotos vencedores, é verdade. Rubens Barrichello e Felipe Massa subiram ao degrau mais alto do pódio 11 vezes cada um. Barrichello foi vice-campeão em duas oportunidades (2002 e 2004), e Massa terminou em segundo lugar no campeonato de 2008, perdendo o título para Lewis Hamilton nos últimos metros em Interlagos, naquele que muitos consideram o final de temporada mais épico que a Fórmula 1 já teve.

Nenhum dos dois, porém, teve a primazia de conquistar um campeonato, embora tenham sido os que chegaram mais perto entre mais de uma dezena de pilotos brasileiros que passaram pela categoria nos últimos vinte anos – constatação que muitos brasileiros detestam fazer, já que aprenderam a gostar do esporte graças às vitórias e títulos do trio Fittipaldi-Piquet-Senna.

Esse, porém, é o menor dos problemas.

Ao contrário do que muitos são levados a pensar devido à escassez de títulos na Fórmula 1, uma geração ótima de pilotos surgiu de lá pra cá, certamente alavancada pelas vitórias e conquistas do trio brasileiro campeão na Fórmula 1. Incluindo o próprio Barrichello, que diversas vezes foi e ainda é achincalhado de forma injusta por muitos de seus compatriotas, e Massa, o “Barrichello” da vez.

Se os títulos não vieram na Fórmula 1, não foi apenas por falta de competência dos nossos pilotos. Pelo contrário, ambos os citados tinham (e Massa ainda tem, embora não por muito tempo) condições e competência para terem sido campeões – Massa não foi por um detalhe em 2008, e Barrichello não foi porque, quando teve o melhor carro, tinha ao seu lado um companheiro de equipe muito superior.

Em outras categorias, porém, tivemos conquistas importantes. Nos EUA, tivemos títulos da Indy conquistados por Gil de Ferran, Cristiano da Matta e Tony Kanaan, além de três vitórias de Hélio Castro Neves nas 500 milhas de Indianápolis, uma das principais e mais tradicionais corridas do mundo. Tivemos ainda um título de Ricardo Zonta no Mundial (eu disse MUNDIAL!) de carros de turismo em 1998 na categoria FIA GT.

Títulos que, infelizmente, são subestimados pelo torcedor e pela mídia do Brasil, que praticamente só tem olhos para a Fórmula 1.

E aí sim está o maior dos problemas, que faz com que o futuro dos pilotos brasileiros tenda a ser sombrio.

A falta de títulos na Fórmula 1 desde o início da década de 90 leva a uma visão um tanto quanto equivocada de que não produzimos mais pilotos como antigamente. E isto é o que realmente vai acabar acontecendo a médio e longo prazo.

É claro que não estamos ousando comparar o trio Fittipaldi-Piquet-Senna a nenhum dos outros pilotos surgidos após.

O que se quer dizer é que, mesmo sem os títulos na Fórmula 1 – embora tenham vindo em outras categorias – o Brasil formou bons pilotos nos últimos 20 anos, o que deveria ser mais valorizado pela mídia brasileira em geral, que precisa olhar de forma menos míope para o esporte e entender que automobilismo internacional não se resume à Formula 1. E até mesmo valorizar mais aquilo que pilotos como Massa e Barrichello fizeram na categoria top do esporte, mesmo sem títulos.

Esse seria apenas o primeiro passo para que o esporte a motor volte a ter estímulo no Brasil. A geração pós-91 só está aí porque foi estimulada pelas conquistas dos anos 70, 80 e início dos 90. É certo que esses caras não chegaram ao nível de excelência de nossos três campeões mundiais. Mas o sucesso que eles tiveram e ainda têm precisa ser propagado por aqui, como forma de estimular o surgimento de novos pilotos.

Do jeito que as coisas andam, em pouco tempo, os pilotos brasileiros desaparecerão da Fórmula 1 e de outras importantes categorias internacionais nos próximos anos – e sem ter piloto nas categorias de ponta, aí mesmo é que os títulos não vêm.

Seria o primeiro passo, mas não o único. Mas o resto fica pra outro post, que este já está longo demais.


Um comentário:

Rodrigo Damasceno disse...

Concordo com tudo o que o Jorge disse. Excelente o texto! Parabéns!