sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Lá é diferente!

A experiência de assistir no ginásio um jogo de hóquei no gelo da NHL
Queria dividir com quem nunca teve essa oportunidade, como é presenciar esse espetáculo. O estilo de vida diferente, a cultura, forma de torcer, acesso ao ginásio, entrada, saída etc. Isso tudo faz parte da história e pode ser bem interessante pra quem não teve essa oportunidade. Eu já havia assistido jogos da NBA, que também proporcionam um grande show, mas o basquete é um esporte mais comum. O fato de ser hóquei é que tornou a experiência ainda mais peculiar pra mim.

Eu estava hospedado em Orlando, mas o local mais próximo onde eu poderia assistir a um jogo da NHL era Tampa, onde joga o inexpressivo time do Tampa Bay Lightening. Uma hora e pouco de estrada (perfeita, diga-se de passagem). Mas como a cidade vizinha à Tampa, St. Petesburg fazia parte do meu "roteiro", aproveitei a viagem.

Peguei o carro e fui rumo à Tampa, onde seria minha primeira parada. O famoso parque Busch Gardens. Aproveitei um pouco o parque e parti para conhecer St. Petesburg, uma pequena e linda cidade litorânea que faz parte da área chamada Tampa Bay, que tem em Tampa sua principal cidade. No caminho me envolvi num pequeno acidente automobilístico num cruzamento de Tampa, mas isso não vem ao caso e no fim deu tudo certo. Entre Tampa e St. Pete, como é chamada a bela cidadezinha, o acesso é por uma ponte que chama a atenção por ser bem "rente" à água. E no momento estava acontecendo o pôr-do-sol. Espetacular!

Um fato que chamou bastante a atenção, tanto em St. Pete quanto em Tampa foi o fato de ambas as cidades "respirarem" o Super Bowl, que é a grande final do futebol americano e maior evento esportivo dos EUA, e que teria sua sede naquele ano em Tampa. Por onde eu passava se via enfeites nas ruas, outdoors, produtos, shows promocionais, enfim, tudo.



Continuando a viagem. Ao contrário do que havia acontecido na ida para St. Pete, a volta me preparou uma supresa não tão agradável, já na ponte. Trânsito. Muito trânsito. Apesar de ter me preparado pra chegar bem cedo ao ginásio, cheguei a ficar com medo de chegar atrasado. Cheguei à conclusão de que era mesmo trânsito normal, de volta do trabalho. Após o trânsito e saindo da estrada rolou aquele medo de não achar o ginásio. Mas as placas e o meu amigo GPS foram precisos. Um ginásio muito bonito e moderno visto de longe. O nome do ginásio? St. Pete Times Forum. St. Pete Times, como dá pra imaginar, é o principal jornal da região.

E onde parar o carro? Simples. Chegando perto do ginásio você já é direcionado para o estacionamento, que é um prédio. Sim, é pago, mas vale à pena. Você pega um elevador e sai na porta do ginásio. E aí é que está um dos grandes diferenciais. Quando a porta do elevador abriu eu achei que estava numa festa. Uma mistura de boate com festa infantil. Música alta, telões, muita gente, muita bebida, brinquedos gigantes para as crianças e muita empolgação. Eu cheguei a me perguntar "será que eu olhei a classificação direito? Parece que esse time é o líder do campeonato". Sendo que o Lightening estava entre os piores na classificação.

Eu já estava com meu ingresso comprado pela internet. Apenas procurei a bilheteria do "Will Call", dei o papel de confirmação e ingresso na mão. Esse processo durou menos de 2 minutos, já que não havia fila. Depois disso fiz o que muitos ali também faziam, fui dar uma olhada na "lojinha" do time. Todos os produtos que você imaginar do Lightening tinham ali. Não comprei nada porque a maioria era caro. Depois dei mais uma olhada naquela "festa" e resolvi entrar.

E na entrada consegui me supreender ainda mais. Meninas vestidas de Lightening entregavam para quem entrava uma revista com tudo sobre a temporada do time e uma caixinha com o boneco de um jogador do time. Sensacional! Lá dentro escada rolante, lojas, lanchonetes. Era um shopping? Parecia mesmo. Procurei a área onde era meu assento e entrei no túnel de acesso. A primeira imagem do "ringue" é realmente surpreendente. Tudo é muito bonito. Você não encontra um defeito sequer.

 E assim como lá fora, lá dentro você não tem um momento de tédio. São promoções no telão, músicas, propagandas, interatividade e muito entretenimento. O ginásio estava bem cheio, mas não lotado, e a empolgação da torcida era bem grande. O adversário era um dos times mais tradicionais da liga, o canadense Montreal Canadiens. Curiosamente bem atrás de mim havia um grupo de torcedores fanáticos do Montreal. Gritavam e xingavam o jogo inteiro. Sim, os torcedores ficam misturados, afinal os lugares são marcados.


O jogo começa e você percebe que o povo realmente adora aquele esporte. Um jogo de muita técnica, precisão e muita, mas muita pancadaria. E nessas pancadarias é que a torcida realmente se inflamava. O interessante é que de repente você se pega torcendo pro time da casa. É quase inevitável.




 Em um dos intervalos resolvi dar uma volta para conhecer ainda mais o St. Pete Times Forum. Algo marcante é a variedade de lanchonetes e tipos de comida que você encontra. Eles realmente comem no estádio. Fazem uma refeição. São famílias inteiras voltando para seus lugares cheios de comida na mão. E quando eu voltava para o meu lugar, com o jogo já reiniciado, um fato acabou marcando. Quando eu saía do túnel para subir a arquibancada, um dos responsáveis pela segurança me chamou e pediu para que eu esperasse o jogo parar, assim não atrapalharia quem estava assistindo. E enquanto eu esperava, vi realmente algumas pessoas espontâneamente ali na mesma situação. Por coincidência o jogo parou exatamente num gol do Lightening. Todo mundo ali com suas comidas na mão e vibrando com o gol.

Fim de jogo, vitória inesperada do Lightening por 4 a 2. Saída super tranquila do ginásio rumo ao estacionamento. Parecia uma saída de cinema. Cheguei no carro, saí do estacionamento sem trânsito, peguei os cento e poucos quilômetros de estrada e cheguei ao hotel, em Orlando, por volta de duas e pouco da madrugada. Tudo perfeito e o fim de uma experiência que realmente valeu à pena.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Um dia na mente de um Rubro-Negro fanático

Este texto não será escrito pelo Bruno do Prancheta, que tanto se esforça para ser imparcial e justo. Será escrito pelo Bruno Rubro-Negro, apaixonado e fanático por esse time que acaba de se tornar Campeão Brasileiro. Vou tentar traduzir como foi esse dia 6 de dezembro de 2009, o dia mais importante da minha vida de torcedor.




Pra começar preciso dizer o quanto foi longa a última semana. Logo após a penúltima rodada, que colocou o Flamengo tão perto do sonhado título, várias coisas se passavam na minha cabeça. Eu sabia que nunca havia estado tão perto de realizar esse sonho. O sonho de ser campeão do campeonato mais difícil que podemos disputar. Uma semana de espera. Uma semana de especulações sobre a escalação e a forma como o Grêmio entraria em campo. Uma semana de muita ansiedade e, sim, muito medo. Eu sabia que a distância do sonho naquele momento era a mesma da frustração total.

Na véspera praticamente não consegui dormir, afinal como se teria sono naquele estado de tensão? E então chega o tão aguardado dia. Apesar de ter ido à vários jogos dessa campanha, tanto no Maracanã quanto no Engenhão, não consegui o item mais precioso daquele dia, o ingresso do título. Então fui para casa do meu amigo (o grande amigo que divide comigo este glorioso blog, Thiago). Como cheguei cedo, foram horas e horas que cismavam em não passar. Horas e horas vendo programas pré-jogo "enchendo linguiça".

Enfim chega a tão aguardada hora do jogo. Aqueles 90 minutos seguintes entrariam para a história. A ansiedade ia evaporando na mesma intensidade que o medo e o nervosismo iam aumentando. Desde o início da semana eu ficava pensando que 90 minutos seriam muito pouco pra conseguir fazer um gol com aquela tensão toda. Mas eu sabia que jogando bem ou mal o Flamengo começaria o jogo sufocando o time reserva do Grêmio. Era o óbvio. Mas não foi o que aconteceu.  Nossos jogadores pareciam passivos em campo. Os dois destaques do time, Adriano e Petkovic, faziam uma partida pífia. Os erros iam se sucedendo e aquela sensação de "parece que vai dar tudo errado" ia tomando conta. Foi aí que aos 21 minutos o desastre iminente se confirmou. Gol do Grêmio. Do garoto Roberson, após cobrança de escanteio. Levou um tempo até acreditar, mas era realmente verdade. Você não sabe o que fazer. Você sabe que jogando daquele jeito o Flamengo não conseguiria virar o jogo.

E, mesmo que com 100% da atenção naquele jogo, começa fazer eco "gol do Internacional", "gol do São Paulo", "gol do Internacional", "gol do São Paulo". O desespero obviamente aumenta. Meu medo não era pelo vexame, pelo possível Maracanazzo, por entregar um título que estava nas mãos, não. Meu medo era simplesmente deixar de realizar aquele sonho que estava na frente dos meus olhos.

O time continuava passivo. Eu pensava comigo mesmo "precisamos empatar no primeiro tempo ainda, mas como o time tá jogando, só mesmo num lance totalmente fortuito". E foi o que aconteceu. O Airton brigou duas vezes de cabeça pela bola, ela chegou no Adriano que protegeu e como um passe de mágica a bola apareceu limpa e linda na frente do David, pedindo "me chuta e faz esse país explodir". O garoto David obedeceu e colocou um sorriso no rosto dos milhões e milhões de Rubro-Negros atônitos. O sonho estava vivo de novo! Era colocar a cabeça no lugar e voltar para o segundo tempo dominando o jogo.

E assim foi. No segundo tempo era praticamente ataque contra defesa. Mas o tradicional medo de torcedor martelava na minha cabeça que se não fizesse o gol logo, o final do jogo seria um desespero absurdo e muito perigoso. Apesar de dominar, não criávamos grandes chances. Como sairia esse tão sonhado gol, meu Deus? Esse gol tem que sair de qualquer jeito.

Agora para tudo.


Vinte e poucos minutos do segundo tempo. Lançamento para Adriano. O zagueiro gremista se atrapalha e manda a bola para escanteio. Pet vai lá cobrar mais um escanteio no jogo. Não era apenas "mais um". Ele bate fechado no primeiro pau. De repente... a bola balança a rede! Um sonho! Explosão! Eu tenho um primeiro momento de grito, explosão e de soltar tudo que tava dentro de mim. Mas logo num segundo momento eu parei e curti aquele momento mágico em silêncio. Ronaldo Angelim era o nome do herói desse conto épico.

Depois desse momento a volta à realidade. Ainda faltavam 25 minutos de sofrimento. O Grêmio não pressionou muito, mas um lance valeu como vários minutos de pressão. Um lance que parou muito coração Rubro-Negro. O gremista Lúcio cobrou uma falta por baixo, Bruno defendeu e a bola caiu no pé do meia Maylson. Era gol certo. Em milésimos um filme passou na minha cabeça. Eu já via a rede balançando. Mas como um verdadeiro milagre a bola não balançou a rede. O jogo continuava 2 a 1.

A partir daí foi uma contagem regressiva. E aos exatos 48 minutos e 10 segundos o juiz Heber Roberto Lopes apitou, fez seu gestual de final de jogo e toda a Nação Rubro-Negra em todo o planeta Terra (quiça em outro planeta) explodiu em alegria, sorrisos, abraços, choro, gritos, buzinas, fogos, silêncios. O que eu mais aguardava desde que me entendo como torcedor da forma que eu sou hoje havia se tornado realidade naquele momento!

Torcedores como eu têm o Flamengo como uma religião. Encontram outros Rubro-Negros em qualquer parte do mundo e tratam quase como um irmão, alguém que tem aquela mesma paixão que você. É algo inexplicável. Apesar de ser algo que não se controla, eu sempre falo que não queria ser assim, que não queria ser tão influenciado por algo tão banal como futebol. Você tem muito mais momentos de frustração do que de alegria. Mas momentos como esse compensam todos os outros.

O fato de você ser esse tipo de torcedor faz as pessoas te darem parabéns num dia como esse, como se fosse realmente uma conquista sua. Isso é muito bom! E depois você assiste várias e várias homenagens na TV, jornais, internet etc e sente como se você tivesse sendo homenageado.

É difícil pra quem é "de fora" entender isso tudo. Parece insanidade. Mas eu garanto que, mesmo que seja insanidade, proporciona momentos incríveis. E domingo foi um desses momentos. Até agora o maior de todos pra mim como Rubro-Negro. E que venham mais momentos como esse!

EU SOU CAMPEÃO BRASILEIRO!